“O peso da luta”, um texto da educadora Danielli Becker

Danielli Ovsiany Becker (*)

Texto dirigido a todos e todas que querem uma educação pública de qualidade

Em países subdesenvolvidos como o Brasil, a educação é considerada despesa e não investimento, haja vista que não é necessário pesquisar muito para constatar que os países de primeiro mundo, onde inclusive o índice de corrupção é quase nulo, possuem os melhores índices educacionais. Em muitos lugares, onde a educação pública e de qualidade é para todos, ricos e pobres, presídios tornam-se obsoletos e fecham as portas, ao passo que novas escolas e universidades são construídas.

Analisando por este viés, justifica-se (ainda é necessário) a luta constante dos educadores e educadoras por uma educação pública de qualidade, que não garanta apenas o acesso e permanência dos alunos e alunas, mas que assegure a eles e elas equidade na disputa de vagas nas universidades públicas e em toda sua vida. Não entrarei no mérito das cotas (medidas paliativas e necessárias), pois me delongaria demais.

Mesmo nós professores por vezes nos tornamos alunos, durante uma infinidade de cursos que fazemos para o aperfeiçoamento da prática, e sabemos o quão ultrapassado está o sistema educacional brasileiro, o quão pouco atrativo tornou-se permanecer em sala de aula. Não somos ignorantes, sabemos da urgência de uma reforma no ensino, mas uma reforma que seja amplamente debatida por todos os envolvidos no processo, e não simplesmente imposta por quem possui interesses escusos em toda esta conjuntura.

Desta forma, para atenuar este problema, vemos cada vez mais professores procurando novas formas de ensinar, preparando aulas diferenciadas e mais atrativas, necessitando de uma carga horária adequada para este fim. A lei federal 11738/08 determina que 1/3 (um terço) da carga horária do professor seja destinada ao preparo das aulas, correção de provas e trabalhos, pesquisas e estudos, e atendimento aos pais. O que é bastante justo, visto que há alguns anos todo este trabalho era feito em casa, ou seja, durante muito tempo esqueceu-se que o professor é um ser humano que tem vida pessoal e família, que gosta de lazer e tempo livre como qualquer outra pessoa.

No Estado do Paraná, até o ano passado, a cada 20 horas aula (que no estado é de 50 minutos) 13 horas eram em sala e as outras 7 eram horas atividade, que nada mais era do que o cumprimento de uma lei federal aprovada em 2008 e só consolidada em 2014 após uma greve dos professores paranaenses. Mas neste ano, ainda durante as merecidas férias, o governador Beto Richa (PSDB) simplesmente retirou 2 horas atividades (agora são 15 horas aula em sala e 5 horas atividade), alegando a necessidade de corte de despesas e dizendo que isso seria melhor para o aluno, já que o professor passaria mais tempo em sala.

Ora, Beto Richa, nos conte outra! Temos várias outras sugestões para a contenção de despesas, e não precisa ser muito inteligente para saber que sim, o professor ficará mais tempo em sala, mas não com a mesma turma, pois a matriz curricular não mudou, ele terá mais alunos e menos tempo para preparar suas aulas. E o mais grave, com a redução das horas atividade e fechamento de muitas turmas (super lotação) milhares de professores ficarão desempregados, mas não achamos que você se importe, nem seu secretário Valdir Rossoni, já que de maneira irônica ele manda um abraço a todos os professores que terão seu direito ao trabalho usurpado.

Falemos ainda, dos muitos profissionais que terão que se desdobrar entre 4, 5 e até 6 escolas para fechar sua carga horária, isso quando estes estabelecimentos forem no mesmo município. E aqueles que tiveram que pegar aulas fora da sua disciplina de concurso? Há casos de professor de educação física com aula de biologia, de matemática com aula de ciências, e língua portuguesa com aula de arte. No entanto, segundo o governo, a preocupação é a qualidade das aulas, é o aprendizado do aluno. Que motivação tem um professor depois de percorrer grandes distâncias entre uma escola e outra? E o pior, ter que dedicar muito mais tempo aos estudos já que vai ensinar disciplinas das quais não tem total domínio. Isto é preocupar-se com a educação?

E se já não bastasse tudo isso, os professores e professoras não têm mais o direito de ficar doentes, pois quem se afastou para tratamento de saúde durante o ano passado não poderá assumir aulas além do seu concurso. Há casos de pessoas que estiveram afastadas para tratamento contra o câncer ou para fazer uma cirurgia de emergência e agora serão punidos. O jeito é trabalhar doente, este é o objetivo do governo. Nem que seja necessário ir para a sala de aula numa cadeira de rodas, com suturas pelo corpo ou com o soro da quimioterapia a tira colo, aí sim estará garantida a qualidade das aulas que Beto Richa tanto preza.

Diante de todo este descaso só temos um caminho, lutar mais uma vez e tantas quantas forem necessárias, mesmo sendo tachados de vagabundos, de mercenários, de radicais partidários, mesmo tendo parte da sociedade contra nós, afinal, Beto Richa dispõe de cinco agências publicitárias, milhares de cargos comissionados e R$ 140 milhões trabalhando a seu favor. E nós temos apenas nossa voz e nossa disposição para a luta. O fardo é grande, o peso é gigante, mas a luta não para, JAMAIS!

Danielli Ovsiany Becker é professora da rede estadual de educação, em Santa Terezinha de Itaipu. É diretora da APP-Sindicato/Foz