Instituto emite alerta epidemiológico para Foz por gravidade da pandemia de covid-19

UPA Morumbi atende pacientes com covid-19 em Foz do Iguaçu – Foto: Marcos Labanca

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia cobra medidas restritivas e suspensão das aulas presenciais.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) emitiu nota técnica apontando para a intensidade da pandemia de covid-19 em Foz do Iguaçu. Endereçado ao poder público municipal, o alerta epidemiológico defende a adoção imediata de medidas restritivas e suspensão da volta às aulas presenciais e no modelo híbrido.

Com base um modelo SEIRS (Susceptíveis – Expostos – Infectados – Recuperados e novamente Susceptíveis), utilizado pelos epidemiologistas para projeções, o estudo aponta a média de cinco mortes diárias no mês de julho. O aumento da mobilidade urbana, intensificado pela volta das aulas presenciais, poderá elevar essa taxa de mortalidade em até 60%.

O principal autor do alerta epidemiológico para Foz do Iguaçu é o biólogo Lucas Ferrante, do INPA. O estudo tem a coautoria de outros cientistas que acompanham a evolução da pandemia em 10 cidades do Paraná, os quais são da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e uma pesquisadora aposentada do Instituto Butantan.

“As projeções indicam a ocorrência de até 130 mortes em Foz do Iguaçu até 20 de julho, se nenhuma medida de intervenção for aplicada, mediante os índices de manutenção da mobilidade urbana”, expõe a nota técnica. Para o cálculo, é considerado o nível de isolamento social da população iguaçuense, dados epidemiológicos e taxas de imunização locais.

“Caso se projete aumento dos índices de mobilidade urbana neste período, seja por movimentações no comércio ou devido ao retorno das aulas presenciais ou híbridas, o número de mortes neste período deve aumentar em 40-60%”, projeta o estudo do INPA. Esse número poderá “alcançar mais de 180 a 200 novas mortes no município entre 29 de junho e 19 de julho”, reforça.

“Recomendamos o não retorno às aulas presenciais ou híbridas, sendo de responsabilidade dos gestores públicos qualquer aumento de transmissão comunitária pela circulação viral em crianças”, enfatiza o pesquisador Lucas Ferrante. “As crianças possuem carga viral equivalente a dos adultos, podendo transmitir o SARS-CoV-2 mesmo quando estão assintomáticas, o que coloca em risco pais, avós, professores e funcionários de escola”, completa.

Transmissão comunitária

O cientista do INPA afirma que Foz do Iguaçu não atende às normas para o retorno presencial ou híbrido, com base nos pressupostos da comunidade científica internacional. Ele saliente que embasar a volta às salas de aula comparando as redes pública e privada, ou instituições que foram usadas como modelo pelo município, não é adequado.

“É consenso mesmo entre os pesquisadores que defendem o retorno escolar sem a vacinação, que tal retorno não deve ser realizado quando a localidade está em transmissão comunitária, o que é a situação de Foz do Iguaçu”, sublinha. Para a volta às aulas minimamente seguras, é necessária a imunização, com duas doses de vacina, de 70 a 85% da população, defende.

Acesse o alerta epidemiológico do INPA.

Referência profissional

O epidemiologista Lucas Ferrante integra o grupo de pesquisadores que previu a segunda onda e o descontrole da covid-19 em Manaus (AM) e, em 8 de março de 2021, alertou para terceira onda da doença que se projetava para Curitiba (PR), quando a gestão da Capital do Estado implantou lockdown de 21 dias. É autor de artigos publicados na Nature e Science, principais revistas científicas internacionais.