Medida prejudica estudantes que trabalham e provocará evasão; direções de colégios são orientadas a suspender matrículas.
Educadores(as) de Foz do Iguaçu e região estão preocupados com a decisão do Governo do Paraná de iniciar, a partir de 2020, o processo de extinção do Ensino Médio ofertado no período noturno. Direções de escolas estão sendo orientadas a suspender as matrículas que já foram realizadas para turmas do primeiro ano dessa etapa da educação.
Educadores(as) destacam que nem todas as escolas possuem estrutura para assimilar a demanda de estudantes da noite nos períodos diurnos. Além disso, há o receio quanto ao aumento da evasão de alunos que trabalham, principalmente das famílias mais pobres. A medida ainda prejudicará adolescentes e jovens que deverão matricular-se em colégios longe de casa.
De acordo com Márcia Fabiani, diretora do Colégio Dom Pedro II, que fica na região do Morumbi, ela foi orientada a suspender as matrículas no primeiro ano do Ensino Médio para 2020, em reunião com a equipe do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Foz do Iguaçu. Cerca de 70 estudantes poderão ser prejudicados com a decisão.
“A escola foi pega de surpresa. A chefia do NRE disse que a Secretaria Estadual de Educação não informou o que deverá ser feito com os 70 alunos(as) do primeiro ano do noturno, todos trabalhadores(as) e que moram perto da escola, que deverão ter as matrículas suspensas”, frisa a diretora. “Entre o trabalho e o estudo, esses(as) jovens terão de optar pelo emprego.”
Sem espaço físico
O fechamento do Ensino Médio também preocupa a comunidade do Colégio Gustavo Dobrandino da Silva, que fica no Sul da cidade, na região do Porto Meira. Conforme o diretor do estabelecimento de ensino, Ademir de Lima, o corte proposto pelo governo para o ano que vem é de uma turma do primeiro ano.
Ele explica que a instituição não possui espaço físico para mais salas de aula, necessárias para receber alunos do noturno. Para o educador, vai ocorrer evasão escolar. “Irá aumentar entre os(as) alunos(as) que trabalham formal e informalmente. Já é difícil de mantê-los frequentando o noturno quando moram próximo ao colégio, imagina se tiverem de deslocar-se para um lugar mais longe”, enfatiza Ademir.
Comunidade é contra
A orientação à equipe do Colégio Estadual do Campo Teotonio Vilella, que fica no distrito de Portão do Ocoí, em Missal, é para a suspensão da matrícula de 28 estudantes que pretendem ingressar no primeiro ano do Ensino Médio em 2020. O diretor Paulo Esbabo explica que a comunidade se reuniu e consagrou em ata a posição contrária à extinção dessa modalidade de educação.
“Temos alunos(as) que trabalham durante o dia, a maior parte ajuda os pais agricultores. Se o Ensino Médio à noite for fechado, a maioria deles para de estudar, pois o único colégio que ofertará o curso fica na cidade”, aponta. “Essa medida contraria os direitos à educação no campo e de acesso a modalidades de ensino que respeitem as características socioculturais e econômicas da comunidade”, expõe Paulo.
Mobilização
No Colégio Estadual Pedro Parigot de Souza, em São Miguel do Iguaçu, professores(as), estudantes, pais e mães de alunos(as) estão conversando para encontrar formas de impedir o fechamento de turmas do Ensino Médio noturno. Para a diretora Rejane Christ Ghellere, essa decisão do governo enfraquece a educação pública.
“Essa escola foi fundada pelo meu pai, e minha história está ligada a ela. Cada árvore, cada tijolo dela tem o suor de meus familiares. Acredito na educação e na escola pública e não vou me conformar com essa medida que prejudica nossos estudantes. É o legado que recebi de meus pais. Vamos defender o Ensino Médio”, enfatiza Rejane.
Informações distorcidas
Presidente da APP-Sindicato/Foz, Cátia Castro explica que a manutenção do Ensino Médio noturno é uma das pautas da greve da categoria, que começará no próximo dia 2 de dezembro em todo o Paraná. Ela relata que o Governo do Estado não fez qualquer debate sobre o tema com as comunidades escolares e instituições que representam os educadores(as).
“O governo distorce as informações por meio de seus canais de comunicação, tentando passar a ideia que todos os alunos(as) do noturno terão vagas garantidas no diurno”, enfatiza Cátia. “Isso é uma grande falácia, pois não há estrutura e, principalmente, os(as) alunos(as) da noite são trabalhadores(as) e não podem ser transferidos, de forma autoritária, para aulas de dia.”