Em mais um atentado contra a educação em nosso país, a cidade de Londrina (PR) é a vitima da vez em mais um ataque à escola pública, às artes e ao exercício livre do magistério.
A apresentação de uma peça de teatro no espaço de uma escola pública tradicional em Londrina foi o estopim para mais um caso de atentado contra a educação e o exercício livre da profissão de professor em nosso país. A tese de que a censura já está instaurada no Brasil, não através de atos normativos ou legais, mas por meio da difusão de um caldo cultural difuso, se comprova agora, infelizmente, mais uma vez.
Na última sexta-feira (01/11), no âmbito do Festival Internacional de Londrina (FILO), um grupo de teatro usou a estrutura do Colégio Estadual Hugo Simas, no centro da cidade, para fazer uma apresentação na escola, no período noturno. A peça teatral tratava de temas adequados à faixa etária dos estudantes ali presentes, relativos às questões prementes da juventude, de seu acesso à educação e de valorização da diversidade, em absoluta consonância com o projeto pedagógico da escola.
A reclamação de uma mãe da escola nas redes sociais viralizou e se deu em decorrência da postagem de um vídeo na Internet reclamando do conteúdo da peça na escola. Isso repercutiu de forma sensacionalista tanto na imprensa local quanto por meio de declarações desastrosas de homens públicos que fazem das questões morais seu principal palanque. Criou um clima de perseguição e ataques aos professores e à direção da escola que, agora, sentem-se ameaçados. A mãe, em tom eufórico, e sem sequer conversar previamente com a direção escolar, passou a convocar uma manifestação na porta do Colégio para a última terça-feira. Apesar da presença diminuta de apenas 15 pessoas na dita manifestação, o estrago já estava feito: a censura à apresentação teatral na escola, e os ataques violentos nas redes sociais aos professores e à direção escolar, contendo até ameaças de morte, já estava instituída.
Os tempos sombrios em que vivemos fez a denúncia vazia ganhar mais repercussão do que a importante tarefa pedagógica da escola de oferecer arte e cultura aos seus estudantes. Escola tradicional da cidade e habituada a acolher e oferecer aos seus estudantes manifestações culturais e artísticas diversas, o Colégio Estadual Hugo Simas deve receber nossa solidariedade irrestrita. Da mesma forma e na mesma proporção, devemos todos repudiar de forma veemente mais essa manifestação de intolerância e de tentativa de censura e cerceamento ao direito constitucional da liberdade de aprender e ensinar.
As violentas manifestações que se percebem agora nas redes sociais contra a escola e seus profissionais deveriam ser motivos suficientes de vergonha. Vergonha do nosso fracasso enquanto sociedade! Qual foi o momento em que se deu essa virada em nosso país, em que os/as professores/as e a educação pública viraram alvos de ataques? Nós temos algumas pistas quanto a essa resposta e todas indicam que esse caldo cultural nasce e cresce com discursos de ódio que, propalados à exaustão por representantes políticos tanto nos parlamentos quanto na própria Presidência da República, não podiam gerar outra situação se não exatamente essa que estamos vivendo.
É por isso que os/as educadores/as em todo o país não se sentirão acuados por ataques dessa natureza e, nesse momento, nos colocamos ao lado da educação pública e da livre manifestação artística em nosso país. Toda solidariedade ao corpo de profissionais da educação do Colégio Estadual Hugo Simas, de Londrina/PR! Esse pesadelo dos dias de hoje há de acabar. O clima de perseguição e denuncismo não irão prosperar. Não existe educação sem liberdade, e dela não abrimos mão!
Brasília, 07 de novembro de 2019 Direção Executiva da CNTE